sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Autofagia

Rogério Coelho

O autófago aqui sou eu, que desta terra tem de comer aço,Pra produzir comida e defecar dinheiro

Andar sem passo, correr sem medida, pedir sem vergonha, se esfolar com o medo

Eu que costuro chumbo da bala em seus entrecortes de corpos, e costuro os cortes da navalha de zinco, que o seu Zé recebeu, porque não deu fiado na pinga e o degenerado o venceu na rapidez do fio, na navalha afiada, na altura do pescoço e do vício. Autófago aqui, sou Eu que ergo paredes no meu muro interior, e compro revolver pra me armar contra o pó, contra a coragem dos dias, que mandam hoje mãe vender filha sem d, contra a prostituição de um governo que cala a verdade, promove a impunidade, pra fazer carreira de PODER na cidade ? Ah! Cidade!

Autofagia pra que não sabe, é o ato de comer-se a si próprio, devorar – se ao Pó dos dias, fiar-se horas degustando TV, engolindo um prive e prevendo o próximo michê. Serei eu o próximo a lidar com minha carne, devorar-me de inteira burrice por falta de alimento crítico, por falta, de alento ideológico por falta de um líder político?

Devorei eu, devorar-me como assim me ensinam os bancos e prostituições financeiras, e de encargos nas costas, fatiar –me os fundos e servir – me ao ponto ?

Devorei – eu aprender a ser miserável e me alimentar de minha própria carne de egoísmo banal; como bem me educam no açougue da nossa justiça vertical, que de cima pra baixo, nunca tem famoso, líder, político que seja bandido ; é sempre o preto, o pobre, a mulher, o viado, ou qualquer vagabundo fodido, da vida pública a ser banido.

Autofagia da sociedade é o vício de bandeja a quem não tem prato; sirva-se de seu próprio pedaço no consumisimesmo, a fome do autófago aqui é do tamanho da informação: se tem comida a barriga cala, antes mesmo da primeira garfada, se não tem, a cabeça pesa antes mesmo da primeira gofada. Alimentam – nos de nos mesmo, sonhos e dramas, novelas indianas, ainda que não se saiba se a índia que visitei em uma viagem austral, há anos, há fome que não é ilusão, ela impera no estomago do mundo e no cú da televisão

post/Kaká Pimentta

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