sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Elefantes na rua

Rogério Coelho

Quando passam os elefantes, as casas tremem,/ as ruas afundam,/ as pessoas têm de se esconder,/ e deixar de atravessar a rua/ perdem o dia de trabalho, ficam putas/ não podem vender as verduras,/ andar de bicicleta/. Os elefantes fazem muito barulho./ atropelam crianças./ não que eles sejam mal, mas o peso que eles têm/ . Hoje mesmo não pude conversar ao telefone./ meus ouvidos soluçavam, pela presença deles na rua./

Passam todos os dias, quase no mesmo horário.

Os elefantes desfilam pelas ruas./ ao contrário de outros blocos , eles não têm cores. São apenas cinza. Vão em debandada,/ frieza de passos, ouvidos grossos,/ alguns reclamam, outros aproveitam a merda que eles deixam na rua./ levam pra casa, como esterco./ outros simplesmente olham./ a presença dos elefante snas ruas tem sido muito freqüente nos últimos tempos./ últimos tempos. Serão últimos? Foram Últimos? Seriam últimos, e não foram, porque ainda serão? Sei que os elefantes destroem as ruas./ e eles tem de reconstruir tudo de novo./ não fica bom, o asfalto cede toda vez./ e a rua vive cheia de remendos enormes./ alguns pontos são mais frágeis./ algumas casas criam rachaduras./ algumas pessoas desistem de sair de casa com medo de não voltar, barrada a entrada pelos elefantes../ pra muitos são um incômodo, mas como exigir que eles voltem a seu lugar. Já não têm mais casas. Não há lugar para os acomodarem/ eles só passam mesmo./

as igrejas lotam de preces, mas aos elefantes é impossível a oração. A maioria dá lhes comida. Os alimentam. Com grandes quantidades de comida. / eles comem de tudo: abóboras, repolhos gigantes, mandiocas, até lixo eles come. e/ quando lhes dão lixo parece que demoram a voltar. Uma vez dizem que um deles morreu, quando a dona Leninha deu a ele o esterco, guardado dentro de um saco plástico./ não demorou muito, a polícia foi buscar, a dona leninha. Porque ela não sabia que era proibido alimentar os animais.

Os elefantes na rua são muito comuns, o que é incomum é o fato de as pessoas não os perceberem.

É o fato de eles passarem por despercebido.

post/Kaká Pimentta

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